Longe de mim defender 50 Tons de Cinza, mas essa crítica é de uma imbecilidade ímpar. Villaça acha que crítico de cinema tem que ser sociólogo.
"Não é difícil encontrar, em Cinquenta Tons de Cinza, as evidências de sua origem como fan fiction inspirada pela série Crepúsculo: estão lá a protagonista com baixa autoestima e tendência autodestrutiva; o homem que a ama e rejeita com a mesma frequência e por quem ela se anula; e, claro, até mesmo o antigo amigo que (pertencente a uma minoria étnica) se mostra secretamente apaixonado por ela. A diferença – e a prova do mal causado pela trama protagonizada por Bella e Edward – é que a escritora E.L. James demonstra ter absorvido bem as lições sexistas ensinadas por sua fonte de inspiração, elevando-as à enésima potência. Assim, perto deste filme, Crepúsculo soa como um manifesto feminista e Stephenie Meyer se transforma em Betty Friedan.
Adaptado pela roteirista Kelly Marcel, Cinquenta Tons de Cinza nos apresenta à jovem Anastasia Steele (Johnson), uma estudante de literatura que, atendendo a um pedido da colega doente, aceita fazer uma breve entrevista com o ricaço Christian Grey (Dornan). Imediatamente romantizando as falas mais egoístas do sujeito (“Seu coração é maior do que deixa transparecer”, ela diz dez segundos depois de conhecê-lo.), a moça logo se vê atraída pelo rapaz, que, mesmo demonstrando também se interessar por ela, não demora a sugerir ter um “segredo” que a afastaria. Sangue vampiro? Não. Fetiche por práticas BDSM (popularmente conhecido como “sadomasoquismo”, embora seja mais amplo do que isso).
Aliás, aí reside um dos grandes problemas do filme (e, suponho, do livro, que não li – uma decisão que me parece cada vez mais acertada): confundir fetiche com abuso. Ao contrário do ótimo Secretária (que trazia James Spader vivendo um advogado chamado Grey – uma coincidência grande demais para ser coincidência), cuja relação BDSM era obviamente consensual e trazia prazer a ambos os parceiros, o que vemos aqui é um tratamento conservador e amedrontado do fetiche, que é encarado pelo próprio Christian como algo “errado” que merece ser escondido e repudiado. O mais grave, porém, é perceber como Anastasia fica claramente desconfortável em seus “encontros” com o parceiro, obviamente aceitando as “punições” como uma medida desesperada para ficar ao seu lado. O sexo retratado pelo longa, vale apontar, nada tem de sensual, mostrando-se mecânico, estéril e deixando evidente que, na maior parte do tempo, é Grey quem se diverte sozinho, o que comprova que, mesmo escrito por uma mulher, Cinquenta Tons de Cinza nada mais é do que uma triste fantasia machista."
http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=12514
"Não é difícil encontrar, em Cinquenta Tons de Cinza, as evidências de sua origem como fan fiction inspirada pela série Crepúsculo: estão lá a protagonista com baixa autoestima e tendência autodestrutiva; o homem que a ama e rejeita com a mesma frequência e por quem ela se anula; e, claro, até mesmo o antigo amigo que (pertencente a uma minoria étnica) se mostra secretamente apaixonado por ela. A diferença – e a prova do mal causado pela trama protagonizada por Bella e Edward – é que a escritora E.L. James demonstra ter absorvido bem as lições sexistas ensinadas por sua fonte de inspiração, elevando-as à enésima potência. Assim, perto deste filme, Crepúsculo soa como um manifesto feminista e Stephenie Meyer se transforma em Betty Friedan.
Adaptado pela roteirista Kelly Marcel, Cinquenta Tons de Cinza nos apresenta à jovem Anastasia Steele (Johnson), uma estudante de literatura que, atendendo a um pedido da colega doente, aceita fazer uma breve entrevista com o ricaço Christian Grey (Dornan). Imediatamente romantizando as falas mais egoístas do sujeito (“Seu coração é maior do que deixa transparecer”, ela diz dez segundos depois de conhecê-lo.), a moça logo se vê atraída pelo rapaz, que, mesmo demonstrando também se interessar por ela, não demora a sugerir ter um “segredo” que a afastaria. Sangue vampiro? Não. Fetiche por práticas BDSM (popularmente conhecido como “sadomasoquismo”, embora seja mais amplo do que isso).
Aliás, aí reside um dos grandes problemas do filme (e, suponho, do livro, que não li – uma decisão que me parece cada vez mais acertada): confundir fetiche com abuso. Ao contrário do ótimo Secretária (que trazia James Spader vivendo um advogado chamado Grey – uma coincidência grande demais para ser coincidência), cuja relação BDSM era obviamente consensual e trazia prazer a ambos os parceiros, o que vemos aqui é um tratamento conservador e amedrontado do fetiche, que é encarado pelo próprio Christian como algo “errado” que merece ser escondido e repudiado. O mais grave, porém, é perceber como Anastasia fica claramente desconfortável em seus “encontros” com o parceiro, obviamente aceitando as “punições” como uma medida desesperada para ficar ao seu lado. O sexo retratado pelo longa, vale apontar, nada tem de sensual, mostrando-se mecânico, estéril e deixando evidente que, na maior parte do tempo, é Grey quem se diverte sozinho, o que comprova que, mesmo escrito por uma mulher, Cinquenta Tons de Cinza nada mais é do que uma triste fantasia machista."
http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=12514