Entendendo o Brasil - pt 2. A cultura de conselhos.

Por que o brasileiro adora tanto "gurus".

Um exemplo vale mais que a explicação.

O eminente professor Abdalaziz Moura (1978), inquieto com os rumos do catolicismo popular, nos fala que muita gente se pergunta por que Frei Damião conseguiu chegar ao lugar a que chegou, por que o povo admirava tanto ele, por que as pessoas contam tantos milagres a seu respeito? A resposta sobre o prestígio de Frei Damião decorre mais dos seus conselhos do que das pregações que as massas aplaudem sem entender. Os seus conselhos são fixados na memória dos devotos.

Vale recordar que somos frutos de uma herança cultural africana e indígena, daí o nascedouro onde o conselho é fundamental na vida das pessoas; mesmo com as dependências que ele pode causar; mesmo assim o conselho é considerado um grande valor para a vida. Além disso, sabemos que Frei Damião era um homem de grande generosidade, integridade moral e também o seu verdadeiro espírito de piedade atraía para ele milhares de devotos, que os acompanhavam para aconselhar-se espiritualmente.

http://meuartigo.brasilescola.com/religiao/caminhando-com-frei-damiao-no-sertao-nordestino.htm

depois volto ao tópico.

Uma cultura patriarcal (creio) tenderá a respeitar 1) a opinião dos velhos (a idade deles é uma prova de que foram capazes de sobreviver); e 2) dos sábios.

Em razão de 1 será capaz de reconhecer quem deve ser ouvido no 2.

Por que o brasileiro adora tanto "gurus".

Isso não seria mais coisa de americano que nós importamos?

Descobri que nos EUA estão bombando cursos de "aprenda a ser escritor". Tal qual os PUA, há centenas de gurus da escrita tbm, e aqui a moda está começando a pegar timidamente com os primeiros cursos aparecendo.

Não seria nós imitando a cultura dos cursos "how to do it?" dos gringos?

Última edição por Joe em 17/11/14, 01:25 pm, editado 1 vez(es)

Isso não seria mais coisa de americano que nós importamos?

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Não brow. Não me refiro a guru de PUA. Importações culturais estrangeiras ficam na superfície no mundo do "consumo" midia.

Na gringolândia devido a coisa de protestantismo eles curtem mais um self-help tecnicista escrito por um nerd usando bata branca do que os conselhos do "vozão". Eles adoram manuais e a literatura "how to do"(como fazer) existe desde tempos remotos.

A raiz da auto-ajuda na gringolandia é o seguinte: Eles não querem um Papa, eles querem que chegue um sabichão, e diga para eles que lendo a Biblia a interpretando por si mesmo vc pode se salvar.

Sociedades protestantes: se matam mais e são mais ricas. Individualistas, a prosperidade é uma dádiva de Deus. Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Escócia, Finlândia, Noruega, Islândia e Suíça.

Sociedades católicas: se matam menos e são mais pobres. Coletivistas, a prosperidade é uma tentação. França, Itália, Espanha, Brasil, Argentina, México, Paraguai, etc.

Fonte: Durkheim in O suicídio e Max Weber in Ética protestante e o espírito do capitalismo.

Esse se "matam menos" devia ser na época dele, pois hoje os países católicos(ou ex-catolicos talvez), lideram indisputavelmente os rankings de violencia, ultrapassando em muito os paises muçulmanos.

Sim. De acordo com Deleuze, o afastamento do niilismo negativo, in casu do cristianismo (negação desse mundo irreal em função de um mundo verdadeiro, o paraíso), fez o sujeito cair de cabeça no niilismo passivo (nem aqui, nem lá. Nada presta): o que pode levar ao desespero, ao suicídio.

A maioria ainda busca abrigo no niilismo reativo (viver por uma ideia, uma causa, construir um mundo melhor, viver num ativismo irrefletido).

Última edição por Radamanto em 19/11/14, 12:12 pm, editado 1 vez(es)

Os muçulmanos são fortemente amarrados ao niilismo negativo, sonham dia e noite com as 70 virgens.

White Witch escreveu:

Esse se "matam menos" devia ser na época dele, pois hoje os países católicos(ou ex-catolicos talvez), lideram indisputavelmente os rankings de violencia, ultrapassando em muito os paises muçulmanos.

O Weber não estaria se referindo a países católicos de primeiro mundo? Como a Itália e a França, por exemplo.