Não vi problema no fato do JJ Abrams ter
chupinhado tomado emprestado a "fórmula" do episódio IV (Uma Nova Esperança), mas no modo como ele encaixou alguns elementos. Além disso, temos a tríade dos personagens Millennials:
- Rey, a personagem principal, é um exemplo de
"mulher competente". Mesmo tendo passado a vida inteira como uma catadora de lixo no kú da galáxia (em Jakku, pra ser mais preciso), descobrimos que a nossa heroína domina a arte de escalar, fala e compreende diversas línguas, sabe pilotar e consertar naves espaciais, rivalizando ou superando em habilidade o grande Han Solo, e, sem qualquer treinamento prévio, sabe usar a Força, atirar com blasters e manejar um sabre de luz, derrotando inclusive com grande facilidade o seu primo e vilão Kylo Ren — que treinou diretamente com Luke Skywalker e com o líder supremo Snoke, conhecendo assim, os dois lados da Força. A única coisa que talvez ela não saiba fazer é cozinhar, mas pra isso ela pode contar com seu amigo, o "white knight" (ou seria 'black knight"? rs) Finn.
- Finn, o stormtrooper arrependido que conseguiu se desprogramar do condicionamento que recebeu desde a infância, até que é um personagem legal (ao menos tem um background) e funciona bem como alívio cômico, mas em alguns momentos também encarna o tipo "destreinado e fodão". Chega a ser ridícula a facilidade na qual ele, tendo trabalhado nos esgotos da base Starkiller (uma porra 3x maior que a Estrela da Morte), consegue se infiltrar na base e desativar seu escudo, permitindo que a resistência a destrua com uma minúscula frota de naves e algumas bombas. Parece que quanto maior e mais ameaçadora é a super-arma, mais fácil se consegue destruí-la.
- Kylo Ren (vou chamá-lo de Darth Millennial), um dos vilões do filme (seu mestre Snoke é o vilão
de facto), tinha tudo para ser um vilão marcante. Mas a aura de mistério e medo que ele poderia impor começa a cair quando ele tira a máscara, se revelando um garotinho juvenil, criado a leite com pera e ovomaltino, cuja conflito maior é sua vontade de sair das sombras do avô (Darth Vader), do tio (Luke Skywalker) e do próprio pai (Han Solo). No fim, mesmo com todo o poder natural e pesado treinamento, é facilmente derrotado pela prima Rey e seu escudeiro Finn (que também decide usar o sabre de luz). Só escapou da morte por um "milagre" do roteiro. Mesmo levando em consideração que ele é um vilão incompleto, em processo de treinamento, não dá pra engolir.
Fazendo uma inevitável comparação com a primeira trilogia, não consigo descartar as críticas que apontam para uma motivação politicamente correta, SJW e feminista. O filme passou até mesmo pelo crivo das criaturas mais chatas da galáxia, sendo aprovado em um
teste feminista (sim, isso existe
).
Bem, a comparação mais óbvia é entre Rey e seu provável pai, Luke Skywalker (que aparece somente na última cena para não ofuscar nossa heroína). Ao contrário da super-fodona-desde-o-nascimento Rey, Luke Skywalker começa sua jornada do herói como um bocó, que treina sob a tutela de dois mestres Jedi (Obi-Wan Kenobi e Yoda) antes de encarar seu primeiro duelo de sabres de luz, do qual sai miseravelmente derrotado e sem uma das mãos. Das duas uma, ou a Rey herdou todas as suas habilidades pelo milagre da genética ou são o resultado do fenômeno de "girl power" que tomou Hollywood de assalto nos últimos anos.