Eu estou aqui sem saber se sou eu que estou resistindo a efeitos colaterais inescapáveis da vida adulta, ou se são nossos tempos.
A segunda década desse milênio tem sido marcada por tédio e letargia.
Lembra quando não havia internet? As pessoas tinham uma inquietude. Era sob a forma de energia a ser gasta, e não era realmente complicado - nenhuma forma - de botar um uso para ela. Um convite aos amigos para se embrenhar no mato de bicicleta logo virava um hábito, um programa regular - o que mais iria se fazer, ver Faustão? Ninguém fazia idéia do que era downhill, apenas fazia.
O mesmo para quem gostava de música. Por aqui tínhamos o Sunday In Rock, como apelidamos. Fardos e fardos de bebida, se montava uma bateria e amplificadores no quintal de alguém, e o dia inteiro era bebendo e tocando - uns melhor que outros mas todos se divertiam.
Mas isso tudo eram entre 10 a 20 anos atrás em minha vida.
Por um lado certamente há a questão da idade. As pessoas se tornam chatas e indispostas a qualquer forma de diversão que implique levantar a bunda do sofá. Meu padrinho costuma dizer que antigamente se ficava velho mais cedo - o pai dele aos 35 era velho (agia como velho), já ele, aos 50, não chegou à velhice que o pai dele chegou aos 35. Penso que meu padrinho não se propôs ainda, para ver o desafio que é, juntar 10 pessoas para fazer algo divertido. Um churrasco que seja, não é iniciado com o povo chegando com cerveja e carvão, nervoso para fazer zoeira, e sim chegando arrastando um fardo de cerveja como se estivesse carregando um saco de cimento (o vigésimo do dia, com o lombo cansado já).
Esse cansaço é realmente físico e mental... ou por acaso o "músculo da euforia" se tornou flácido nessa gente?
De outro lado também, boa sorte tentando arrancar a cara das pessoas da telinha do celular. Uma marca de cerveja do RS chegou a inventar um daqueles "isopores pra cerveja" (que os bares botam as garrafas dentro) que causa interferência e mal funcionamento do celular: pra ver se as pessoas conversam em vez de ficar com a cara no facebook.
Meu hobby é música então esse caso conheço bem. Liguei para um antigo professor de guitarra meu solicitando algum aluno que estivesse já encaminhado, pra integrar uma banda conosco. Sonho de todo guitarrista da minha época: baixista, baterista e vocalista à mão, só faltando ingressar. Me diz ele: "Olha, vai ser difícil. O perfil dos meus alunos mudou muito nos últimos cinco anos. Não tem mais gurizada. São tudo acima de 50... queriam tocar quando jovens mas não dava, e agora estão correndo atrás do sonho. A maioria mal consegue tempo pra vir às aulas então não sei se algum deles se dispõe a ensaios e etc".
Outro dia meu primo de 18 anos me perguntou se eu conhecia Motorhead. "Bem antiga mas muito boa essa banda". Dei risadas, é claro que eu conheço. De onde ELE conhecia? Um jogo chamado "Guitar Hero". Eis, o vilão. De um lado a meninada está conhecendo Deep Purple e Creedence. De outro, ao invés de estar conhecendo porque estão aprendendo a tocar as músicas deles, sua interação com essas músicas é através de um "joystick" que mais parece um brinquedo da Hotweels.
(Dei uma dessas pro meu afilhado de 1 ano...)
Eu não sei se sou eu ou se são os outros.
Pode ser que eu esteja me "recusando a crescer", e estou mesmo, na extensão do que "crescer" seja entendido como "tornar-se um chato" que não quer fazer nada.
Mas me concedo o benefício da dúvida. Tem algo de muito errado quando um contingente de pessoas relativamente jovens e saudáveis prefere ficar com a cara enfiada numa telinha de LCD do que fazer qualquer coisa que requeira a) sair de casa; b) estar com pessoas; c) se movimentar um pouco.
O que mais me chama a atenção é como essas "diversões" de ultimamente, são vazias de gratificação. Depois que deletei praticamente tudo que é rede social da minha vida me dei conta de uma coisa: o tempo gasto nelas nunca retornava um resultado apreciável. Posso passar 30 noites dentro do estúdio que ao final tenho uma música pra mostrar. Posso me enfurnar na marcenaria que ao final, há um objeto sólido e belo concluído. Posso me embrenhar de bicicleta, moto ou carro no interior, e ver paisagens (e se eu quiser, bater fotos dela para me recordar - fotos que eu não irei postar em redes sociais, que tirei pra mim e para quem participou da pequena "aventura").
Se me enfurnar no facebook o máximo que tiro disso é estar por dentro do último "meme" (o primo pobre da piada: já notaram que a molecada não sabe contar e nem memoriza mais piadas?)
E agora me lembro daquela teoria de que a moda de zumbis colou porque mostra um mundo onde a morte é algo real, e as pessoas precisam se virar. Sei não. Acho que a moda de zumbis colou não porque os sobreviventes reflitam um anseio das pessoas - mas porque os zumbis reflitam seu próprio estado. Um tipo de identificação subliminar com a zumbizada que as pessoas não conseguem notar, e não admitiriam - mas de algum modo, se identificam.
"Muuuuuuuuuuuuuuuust........... eeeeeeeeeeeeeeeeat.... bwaaaaaaaaaaaaaaain...."
A segunda década desse milênio tem sido marcada por tédio e letargia.
Lembra quando não havia internet? As pessoas tinham uma inquietude. Era sob a forma de energia a ser gasta, e não era realmente complicado - nenhuma forma - de botar um uso para ela. Um convite aos amigos para se embrenhar no mato de bicicleta logo virava um hábito, um programa regular - o que mais iria se fazer, ver Faustão? Ninguém fazia idéia do que era downhill, apenas fazia.
O mesmo para quem gostava de música. Por aqui tínhamos o Sunday In Rock, como apelidamos. Fardos e fardos de bebida, se montava uma bateria e amplificadores no quintal de alguém, e o dia inteiro era bebendo e tocando - uns melhor que outros mas todos se divertiam.
Mas isso tudo eram entre 10 a 20 anos atrás em minha vida.
Por um lado certamente há a questão da idade. As pessoas se tornam chatas e indispostas a qualquer forma de diversão que implique levantar a bunda do sofá. Meu padrinho costuma dizer que antigamente se ficava velho mais cedo - o pai dele aos 35 era velho (agia como velho), já ele, aos 50, não chegou à velhice que o pai dele chegou aos 35. Penso que meu padrinho não se propôs ainda, para ver o desafio que é, juntar 10 pessoas para fazer algo divertido. Um churrasco que seja, não é iniciado com o povo chegando com cerveja e carvão, nervoso para fazer zoeira, e sim chegando arrastando um fardo de cerveja como se estivesse carregando um saco de cimento (o vigésimo do dia, com o lombo cansado já).
Esse cansaço é realmente físico e mental... ou por acaso o "músculo da euforia" se tornou flácido nessa gente?
De outro lado também, boa sorte tentando arrancar a cara das pessoas da telinha do celular. Uma marca de cerveja do RS chegou a inventar um daqueles "isopores pra cerveja" (que os bares botam as garrafas dentro) que causa interferência e mal funcionamento do celular: pra ver se as pessoas conversam em vez de ficar com a cara no facebook.
Meu hobby é música então esse caso conheço bem. Liguei para um antigo professor de guitarra meu solicitando algum aluno que estivesse já encaminhado, pra integrar uma banda conosco. Sonho de todo guitarrista da minha época: baixista, baterista e vocalista à mão, só faltando ingressar. Me diz ele: "Olha, vai ser difícil. O perfil dos meus alunos mudou muito nos últimos cinco anos. Não tem mais gurizada. São tudo acima de 50... queriam tocar quando jovens mas não dava, e agora estão correndo atrás do sonho. A maioria mal consegue tempo pra vir às aulas então não sei se algum deles se dispõe a ensaios e etc".
Outro dia meu primo de 18 anos me perguntou se eu conhecia Motorhead. "Bem antiga mas muito boa essa banda". Dei risadas, é claro que eu conheço. De onde ELE conhecia? Um jogo chamado "Guitar Hero". Eis, o vilão. De um lado a meninada está conhecendo Deep Purple e Creedence. De outro, ao invés de estar conhecendo porque estão aprendendo a tocar as músicas deles, sua interação com essas músicas é através de um "joystick" que mais parece um brinquedo da Hotweels.
(Dei uma dessas pro meu afilhado de 1 ano...)
Eu não sei se sou eu ou se são os outros.
Pode ser que eu esteja me "recusando a crescer", e estou mesmo, na extensão do que "crescer" seja entendido como "tornar-se um chato" que não quer fazer nada.
Mas me concedo o benefício da dúvida. Tem algo de muito errado quando um contingente de pessoas relativamente jovens e saudáveis prefere ficar com a cara enfiada numa telinha de LCD do que fazer qualquer coisa que requeira a) sair de casa; b) estar com pessoas; c) se movimentar um pouco.
O que mais me chama a atenção é como essas "diversões" de ultimamente, são vazias de gratificação. Depois que deletei praticamente tudo que é rede social da minha vida me dei conta de uma coisa: o tempo gasto nelas nunca retornava um resultado apreciável. Posso passar 30 noites dentro do estúdio que ao final tenho uma música pra mostrar. Posso me enfurnar na marcenaria que ao final, há um objeto sólido e belo concluído. Posso me embrenhar de bicicleta, moto ou carro no interior, e ver paisagens (e se eu quiser, bater fotos dela para me recordar - fotos que eu não irei postar em redes sociais, que tirei pra mim e para quem participou da pequena "aventura").
Se me enfurnar no facebook o máximo que tiro disso é estar por dentro do último "meme" (o primo pobre da piada: já notaram que a molecada não sabe contar e nem memoriza mais piadas?)
E agora me lembro daquela teoria de que a moda de zumbis colou porque mostra um mundo onde a morte é algo real, e as pessoas precisam se virar. Sei não. Acho que a moda de zumbis colou não porque os sobreviventes reflitam um anseio das pessoas - mas porque os zumbis reflitam seu próprio estado. Um tipo de identificação subliminar com a zumbizada que as pessoas não conseguem notar, e não admitiriam - mas de algum modo, se identificam.
"Muuuuuuuuuuuuuuuust........... eeeeeeeeeeeeeeeeat.... bwaaaaaaaaaaaaaaain...."