Redondo_Apaixonado escreveu: Reavivando o tópico, um dos mais importantes da comunidade.
A origem do tédio no mundo moderno está na falta de objetividade. Entre escolher um Iphone ou um Samsung, ou ler uma notícia da Adriane Galisteu ou ainda assistir Pânico na TV, que diferença faz? O que vai mudar na sua vida?
Tudo é meio irrelevante no mundo moderno. Até mesmo o lucro pode se tornar desnecessário. Muda alguma coisa na vida de um milionário ter 100 ou 200 milhões?
Antigamente, as coisas por serem mais duras tinham algum sentido. Perder uma caça, ou perder a plantação poderia significar sofrimento e morte. Acabar se perdendo no meio da floresta poderia ser fatal.
A constante ameaça de acabar sendo morto, aliado aos estímulos externos naturais - frio, calor, neve, chuva - exigem atenção.
A sensação de tédio, paradoxalmente, aumenta com a quantidade de parafernalhas tecnológicas e com o aumento do entretenimento - stand up comedies, lutas ao vivo, academias de Pilates.
Acrescentaria o seguinte: uma vida mais primitiva não significa necessariamente a ameaça constante de ser morto. Nas suas cartas o unabomber fala sobre sua experiência vivendo no mato e ele diz que o maior problema mesmo é o trabalho duro que se passa para se obter os recursos.
O problema do mundo moderno não é tanto o trabalho em si, mas a falta de sentido do trabalho, o que faz a tarefa mais simples parecer um suplício.
Vou colar aqui algo que escrevi noutro tpc:
https://eusouarcaico.forumeiros.com/t1061p30-roosh-enfurecendo-machonas-canadensesAndei conversando com uns budistas esses tempos sobre como eles enxergam o trabalho e tbm lendo a respeito.
Há algumas comunidades rurais budistas no Brasil. A parte do trabalho funciona assim: cada um faz uma coisa alternando responsabilidades. Por ex: cada um tem seu dia de limpar os banheiros.
Parece uma merda, não? Mas segundo dizem os adeptos não é pq há um propósito. Vc está fazendo algo para o bem-estar da comunidade. Não está apenas limpando banheiros de uma empresa em troca de dinheiro.
Segundo o budismo, o grande mal do mundo moderno é a ausência de pertencer a uma tribo (curiosamente, isso é idêntico ao que Donovan diz sobre a necessidade de pertencer a uma tribo) e esse sentimento de pertencer a um grupo e estar fazendo algo pelo grupo é o que faz o trabalho, senão prazeroso, pelo menos recompensador (algo que praticamente inexiste no contexto moderno).
Esse texto explica melhor. É grande, mas vale a pena ler. O ponto-chave:
"O ponto de vista budista considera a função do trabalho como sendo no mínimo tríplice: dar a um homem a oportunidade de utilizar e desenvolver suas faculdades; possibilitá-lo a superar seu egocentrismo unindo-se a outras pessoas em uma tarefa comum; e gerar os produtos e serviços necessários a uma existência digna. Uma vez mais, são infinitas as consequências que decorrem desta concepção. Organizar o trabalho de maneira que se torne desprovido de significado, maçante, embrutecedor ou ir rotante para o trabalhador seria uma atitude quase criminosa; indicaria maior interesse nos bens que nas pessoas, uma malvada falta de compaixão e um grau de apego, espiritualmente nocivo, ao lado mais primitivo desta existência mundana. Igualmente, sonhar com o lazer como alternativa para o trabalho seria julgado uma completa incompreensão de uma das verdades básicas da existência humana, qual seja a do trabalho e o lazer serem partes complementares do mesmo processo vital e não poderem ser separadas sem destruir a alegria do trabalho e a satisfação do lazer."
http://movv.org/2008/08/14/efschumacher-traducao-autorizada-do-texto-integral-de-a-economia-budista/