Joe escreveu: Mas convenhamos, a maioria das pessoas acha cursos de exatas (tipo engenharia mecatrônica e afins) difícil, e haver pouca mão de obra competente na marcenaria é no mínimo um indicativo que cortar madeira não é algo que a maioria das pessoas classificaria como "satisfatório".
Quanto a exatas, concordo.
Quanto à marcenaria, veja bem... anos atrás era profissão de pobre. Marceneiro, alfaiate, sapateiro (que faz sapatos, não que apenas conserta).
Houve um tempo em que produtos industrializados eram pouco acessíveis. Eu converso com as pessoas e ouço casos em que mobiliários inteiros de madeira maciça foram jogados fora e trocados por porcarias de compensado e fórmica! Isso 30 a 40 anos atrás.
Hoje em dia é diferente.
Com muitas coisas barateadas por importação, produção em massa, em termos de consumo (não de renda), existe muito mais pessoas com acesso a muitas coisas. Mas que como tudo que é produzido em massa, nem sempre tem qualidade, e nem "status".
Certas profissões que seriam ofícios (tradesman) terminaram valorizando. Hoje em dia um terno de alfaiate é mais caro, e existem pouquissimos. Um sapato feito por um sapateiro, custom, é um artigo de luxo. Mobília de madeira de verdade, é caro e uma escolha de bom gosto.
A moda da mobília de pallets é apenas e meramente uma forma do baixo clero SWPL de emular essa elegância sob a pretensa de sofisticação e "atualidade".
Quem abandonou esses ofícios (marceneiro, sapateiro, alfaiate, etc) acabou indo pra fábricas, e não pra empregos mais satisfatórios. São profissões - exceto a marcenaria - que têm morrido (mas que podem muito bem ter um revival).
E na realidade não são consideradas profissões ruins pela maioria das pessoas. Conheço muitos caras que começaram a fazer pequenas coisas em madeira pra relaxar, ou que admiram muito a atividade, e demonstram interesse nela. Assim como conheço algumas garotas que adquirem máquinas de costura e fazem as próprias roupas (sério, isso existe).
Daí a ganhar dinheiro com isso é só se inserir. E a concorrência é pouca.
Eu já disse porque isso anda valorizado, mas tenho também uma teoria de por quê algumas pessoas vêm tomando interesse nessas atividades, primeiro como hobby, e alguns acabam se profisisonalizando. Acredito que o motivo é que a maioria dos trabalhos hoje em dia tem uma conexão serrada com o mundo material, com o manipular as coisas com as mãos, e quando isso é o caso como com operários, vem o problema da "linha de montagem" em que a pessoa não participa do início ao fim do ciclo do produto e não experimenta satisfação.
Acredito que nos próximos anos se tornará mais comum e pode haver uma difusão de ateliers, oficinas de restauração e modificação de veículos (não confundir com tuning, pense em motocicletas "chopper"), e fabricação de artesanatos e mobílias e tudo o mais.
Um exemplo que já aconteceu no interior foi o de abertura de uma série de pequenas indústrias de fabricação artesanal de doces e compotas e geléias. E não são apenas velhinhas querendo tirar um extra... existem moças novas e famílias se envolvendo nisso. Por quê? Porque são muito melhores que as de grandes indústrias, vêm em embalagens que parecem um produto genuíno (com aquela capa de pano sobre a tampa igual a que a vó fazia), e existe um mercado pra isso.
Obviamente o mercado do produto de massa sempre vai existir. E sempre vai existir quem prefere se enterrar num cubículo e fingir que trabalha enquanto se ocupa de fofocas de escritório ou que considera status ser escravo dessa ou daquela empresa.
Mas noto uma mudança aparecendo.