Rant Casey escreveu: Vejo nisso antes um calcanhar de Aquiles de movimentos supostamente progressistas: a recorrência do nacionalismo, no caso em questão o africano (mas poderia ser qualquer outro desde que não seja Europeu, caso o contrário os progressistas notam o "bug" no sistema).
O progressismo consegue até certo ponto acomodar em seu seio movimentos identitários com o ideal progressista de "Um mundo, uma sociedade, sem distinções", sob a pretensa de que os movimentos identitários são necessários num primeiro momento para que haja mobilização. Em parte, isso não conflita tanto assim, porque certos movimentos e sentimentos comunitários tendem a perder tração conforme metas progressistas são atingidas (exemplo: com o avanço do feminismo, muitas mulheres não vêem mais necessidade de suas vertentes radicais e enxergam mais um papel de vigilância por direitos conquistados do que uma necessidade de revolução, para eterno ressentimento da militância).
Observe que este ideal progressista de "Um mundo, uma sociedade, sem distinções" seria a sociedade de consumo perfeita. Se não há distinções, logo não há empecilhos no consumismo. Isso significa que um branco pode usar um turbante afro, um negro comer sushi e um japonês usar saia escocesa sem constrangimento nenhum. Tudo isso significa consumo. Turbantes, sushi e saias escocesas não são de graça.
Diferenças culturais são instrumentalizadas e transformadas em fetiche de consumo. Mas para isso ser possível, é preciso que “Um mundo, uma sociedade, sem distinções" seja viabilizado cada vez mais.
Sem distinções=vc pode consumir o que quiser.
Casos extremos seriam o daquela branquela gringa que se pintou de preta e virou ativista do movimento negro. O “sem distinções” foi levado ao pé da letra.
Ironicamente, esses progressistas da linha “isto é apropriação cultural” são mais conservadores que muita olavette, pois compreendem, mesmo de uma forma torta, que sua identidade virou mercadoria dentro da sociedade capitalista de consumo.
Na verdade esse papo de “isto é apropriação cultural” desses progressistas mais radicais é uma reação, mesmo que tosca, ao que Durkheim chama de anomia.
A anomia é um estado de falta de objectivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes nomundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo e da tomada da Razão como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. A Modernidade, com seus intensos processos de mudança, não fornece novos valores que preencham os anteriores demolidos, ocasionando uma espécie de vazio de significado no cotidiano de muitos indivíduos. Há um sentimento de se "estar à deriva," participando inconscientemente dos processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação consciente e da identidade.https://pt.wikipedia.org/wiki/AnomiaRant Casey escreveu: Porém... uma coisa são movimentos identitários que compartilham mais semelhanças do que diferenças socioeconômicas com o "mainstream" (as pessoas que cagam pra isso). Qualquer possibilidade de "chauvinismo" feminino, gay, trans, gordo, etc, se dissipa nas relações diárias pela forma como a pessoa se insere em redes de solidariedade e satisfação mútua de necessidades com o restante da sociedade. Por feminista que seja uma mulher, ela se apazigua com seu pai se ele faz vista grossa para alguns de seus comportamentos, e continua abrindo a carteira para lhe bancar os estudos e alguns luxos.
O buraco é um pouco mais embaixo com chauvinismos étnicos e religiosos. Aqui entra o "bug" que serra o galho onde as premissas do progressismo se sentam. Elas são fundamentalmente anti nacionalistas em seu projeto para a humanidade.
Uma explicação boa é a oferecida pelo Peter Zohrab no seu “Sexo, mentiras e feminismo”.
Ele diz: homens e mulheres precisam um do outro. Brancos e negros não.
A declaração não é racista. É apenas a constatação da realidade. Coloque homens sozinhos numa ilha e mulheres noutra, nenhum sobrevive mais do que uma geração. Coloque brancos e negros em ilhas diferentes e, havendo um número proporcional de homens e mulheres, estes se perpetuarão infinitamente.
Zohrab usa essa analogia para explicar pq o feminismo não convence a maioria das mulheres e tbm pq a comparação das mulheres com os negros à moda John Lennon é falsa.
No fundo há uma verdade no argumento conservador do “mande gays para uma ilha deserta e eles não passam de uma geração”. Gays, assim como mulheres, dependem dos heterossexuais. Mulheres heterossexuais precisam de homens heterossexuais, assim como eles precisam tbm delas, em vários níveis (sexual, afetivo, etc). Gays, em menor grau, tbm. Gays são filhos de heterossexuais e como o Luiz Mott bem disse “sem heterossexuais não há gays” pq é preciso um homem e uma mulher para fazer um gay (mesmo sem querer).
Em suma, onde não há um elemento sexual/reprodutivo unindo grupos “minoritários” (que é o caso de mulheres e gays) a “majoritários” (homens e heteros), o caldo engrossa. Por isso é que é difícil conciliar diferenças étnicas e religiosas. A ideia básica seria mais ou menos assim: “não precisamos de homens e mulheres de outras etnias e religiões. Somos auto-suficientes”. E não deixa de estar correto esse pensamento. Mande uma etnia ou religião para uma ilha deserta, que eles conseguem se perpetuar e sobreviver.
Como diria o White Witch: “no fundo tudo é sexo”.
Última edição por Joe em 24/09/15, 07:13 pm, editado 7 vez(es)