Com a morte de Stilicon, único líder romano que respeitava, Alarico perdeu a paciência e invadiu a Itália em 409, derrotando a incompetente nova liderança militar inimiga e sitiando Roma. Isto não acontecia desde o século III AC, quando o alarme ressoara nas ruas ao saberem que o cartaginês Aníbal aniquilara as suas aguerridas legiões na batalha de Canas e marchava sobre a cidade. A diferença é que seiscentos anos antes os romanos eram guerreiros que lutavam por patriotismo e vontade própria, mas agora eram um bando de arrogantes preguiçosos, acostumados a viverem à custa do Erário, suprido por províncias cuja espoliação era garantida por um exército profissional de mercenários estrangeiros.

Para enfrentar a grave situação, tudo que podiam fazer era rezar por um milagre, e este ocorreu porque o objetivo do devoto Alarico não era fazer mal a Roma, que respeitava por considerá-la a sagrada cidade de São Pedro, mas forçar o idiota imperador Honório a negociar a INCLUSÃO dos godos no Império. Como sempre, tudo que queriam era tornarem-se cidadãos, receberem terras ociosas para os seus agricultores, cargos no Serviço Público para os seus letrados e postos no Exército para os seus guerreiros.

Por incrível que pareça, o que os decadentes romanos deveriam ter como generosa dádiva foi tida como humilhante chantagem e por isso negaram-se a negociar com os “saqueadores bárbaros”, como chamavam os godos, mantendo a mesma política suicida de exclusão adotada há mais de 30 anos. Seguro na inexpugnável cidade-fortaleza de Ravena, o idiota Honório e seus lacaios não deram importância ao perigo que corria Roma e tentaram cansar Alarico com negociações onde promessas jamais viravam atos. Ele então resolveu depor Honório fazendo o Senado proclamar imperador o nobre Átalo, um tolo pomposo que lhe serviria de dócil instrumento, mas isto apenas agravou a situação, pois o governador do Egito, membro da quadrilha de Ravena, cortou o fornecimento de grãos à capital e esta se viu assolada pela fome, ameaçando o próprio exército godo. Vendo que o tiro saíra pela culatra, Alarico “demitiu” o inútil Átalo e a comida voltou, iniciando-se nova rodada de negociações. O impasse já durava mais de um ano quando Honório o convidou para uma conferência em local próximo a Ravena, mas ao invés de preparar-lhe um comitê de recepção preparou-lhe uma cilada, da qual escapou após derrotar o general Saro, e voltou a sitiar Roma com as suas tropas, que já começavam a criticar a sua boa fé e a lhe questionar a liderança.


Os godos viram a súbita morte de Alarico como mensagem divina dizendo-lhes que deviam desistir da Sicília, e o novo rei Ataulfo, parente e melhor general do falecido líder, fez a sua imperial amante Gala Placídia obter de Honório um tratado que dava aos godos a cidadania romana e um vasto reino no oeste da França e norte da Espanha, tornando-a rainha dos godos pelo casamento com Ataulfo. A justa romanização dos valorosos imigrantes permitiu a vitória de Aécio sobre Átila em 451 na gigantesca batalha dos Campos Catalúnicos, última grande vitória das águias imperiais. Nos anos seguintes, eles dominaram toda a Península Ibérica onde se fixaram definitivamente, de modo que a terra prometida dos godos terminou sendo a Espanha e Portugal e não a Sicília, como sonhara Alarico.


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