Tirado do livro "História Militar do Brasil", do General Nelson Sodré [E ele era comuna, mas tá valendo]
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Sobre "A estrutura militar sulina" na fase autônoma do exército brasileiro, págs. 84 e 85:


"O espírito de subordinação ao chefe natural, o pai ou o patrão, o aguçamento de determinadas faculdades intelectuais, a sobriedade de costumes, a resistência física, o trato das armas, o hábito das cavalgadas e rodeios, faziam do homem da estância um combatente excepcional".

"Foram essas as fôrças irregulares que permitiram enfrentar o problema platino, quando se conjugaram os interêsses do govêrno central, o da metrópole ou o do país autônomo, e os interêsses dos senhores locais. Até a guerra com o Paraguai, e por motivos que serão discutidos a seu tempo, foi essa fôrça irregular, cuja estrutura assentou na ordem social sulina, assegurou a nossa presença no cenário do Prata. Sôbre ela repousou, assim, até segunda metade do século XIX, a segurança do Império; as tropas regulares, enviadas da metrópole ou do Rio de Janeiro, apenas reforçaram a tropilha gaúcha e foram por esta, em regra, mal vistas, inclusive o mercenário. Soldado por necessidade, vendo na luta militar uma atividade normal, de que lhe provinham vantagens, o gaúcho criou as suas formas de organização e preservou-as, fornecendo ainda grandes chefes, seja como condutores de homens, afeitos às campanhas, comandantes de cavalaria, seja como generais e coronéis formados nas fileiras regulares, levados ao Exército por vocação e vendo na atividade militar o traço de enobrecimento que a tradição sulina consagrou. Só aí, realmente, o soldado teve uma situação social definida e apreciada, pois em tôdas as outras zonas foi marginalizado, subestimado, quanto não desprezado. Nas outras zonas, a tropa regular, que refletia um poder distante, não mereceu aprêço, e as fôrças irregulares, de função transitória, atenderam sempre a misteres mais secundários. No sul foi o contrário que aconteceu, mas por fôrça de condições que não se repetiriam fora de determinados limites geográficos, aquêles do pastoreio".

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Muito interessante ver um general e historiador corroborando o que tantos, brasileiros de outros lugares e mesmo sul rio-grandenses, fazem tanto esforço para negar: A velha tecla de que o gaúcho tem, historicamente, uma valentia e espírito guerreiro não compartilhados pelos demais compatriotas.