Dois homens Heteros se casam na Nova Zelândia

Vou resumir a história.

Para ganhar um concurso, dois amigos decidem se casar na Nova Zelândia, deixando claro que não pretendem ter uma "noite de núpcias" nem qualquer roça-bola.

Quem me acompanha em minhas pregações no deserto há tempos, sabe que sou entusiasta do casamento entre dois cabras heteros, mas sem sexo, no entanto, até eu fico pasmo com meus poderes proféticos.

O que no entanto não se previa, é a reação de diversos militantes por "igualdade no casamento", que... de repente, começaram a soar meio "conservadores":

Perobo escreveu:

"It essentially makes a mockery of marriage. Marriage is a really important institution about love and commitment and it's sad to see that there are people who are making a joke out of that," he said.

Também diz outro:

Jacinto Pinto do Rego escreveu:

"Gay and lesbian people are fighting for the right to marry in Australia and have been fighting for the right in New Zealand, and it's because they take marriage extremely seriously, and the commitments and responsibilities that come with that. Here are two straight guys making a joke of that, and that's deeply concerning."

Ativista Bulldyke McBulldyke também declarou:

Velcro Nervoso escreveu:

"This is two straight men who have done a wonderful job of trivialising marriage on their own," she said. "I hope it takes them quite a while to get the marriage annulled."

A adorável ironia disso tudo não passou despercebida por outro ativista, do lado oposto, anti casamento gay:

Christian McJesus escreveu:

"This competition makes a mockery of marriage, but so did the redefining of marriage," he said. He described gay matrimony as "an arrogant act of cultural vandalism".

Embora claramente terminou sua declaração reclamando com o dorso das costas na cintura.

Mas o novo hummm... casal?... de amigos, parece feliz e realizado. Segundo um dos noivos, trata-se de um longo bro-mance. Ele diz:

Noivo escreveu:

Mr McCormick, 24, told the Otago Daily Times his friendship with Mr McIntosh, 23, began when the pair met at Pirates Rugby Club in Dunedin when he was aged six. He said both families were supportive of their decision to wed.
"They're backing us 100 per cent," he said. "We are not here to insult anyone. We are here to do our own thing and travel our own path."

E o prospecto de ganhar o concurso não parece nada ruim, eu aposto.

***

Esse tipo de união de forças opostas, conservadores do tipo burrinho e militantes do tipo histérico, não é nova, se contarmos no entanto o mundo da ficção: nosso Dutra mesmo já escreveu um conto em que, para combater o casamento com ginóides, feministas radicais (e radicalmente barangosas) e fervorosos cristãos uniram forças e porretes para arrebentar o aboseirado protagonista do conto.

Rant Casey escreveu:

Esse tipo de união de forças opostas, conservadores do tipo burrinho e militantes do tipo histérico, não é nova, se contarmos no entanto o mundo da ficção: nosso Dutra mesmo já escreveu um conto em que, para combater o casamento com ginóides, feministas radicais (e radicalmente barangosas) e fervorosos cristãos uniram forças e porretes para arrebentar o aboseirado protagonista do conto.

É o conto "A Mulher Imperfeita" que, vale lembrar, recebeu essa simpática resenha.

A Mulher Imperfeita, de Daniel Dutra: bem escrito, história cadenciada e tal. Só que o nível de machismo desse conto, como diria o meme, is too damn high. Ainda tive a esperança de ser um texto com algum viés crítico sobre a objetificação do feminino, mas não. Algum futuro distante, mas uma cultura machista e misógina igual ou pior do que a nossa, com direito a "mulheres tendo de competir com ginoides pela atenção dos homens". Claro, porque a função da mulher é agradar ao homem, né, ser atraente e bonita para o homem, e a de um homem é ser servido e montar um harém (já que "mulher gosta mesmo é de dinheiro"), a vida não pode passar além disso. E claro, textualmente, as "feministas loucas" que se opõem contra ginoides e até espancam o protagonista. Cara, sério? Uma feminista ficaria feliz que imbecis como o protagonista saíram do pool genético! E se o autor acha que feminismo é fazer piquete e bater em homens tá muito, muito mal informado. Tentei ler até o final mas larguei faltando três páginas. O conto conseguiu me ofender como feminista e como mulher." Nota: 1

http://www.skoob.com.br/estante/livro/22487367

"It essentially makes a mockery of marriage. Marriage is a really important institution about love and commitment and it's sad to see that there are people who are making a joke out of that"

Se foi uma biba que disse isso é piada pronta. Quem ajudou a transformar o casamento em uma piada foi eles (Embora a principal causa seja o divórcio - Casal vai lá jurar "Na saúde e na doença" blablabla até que a morte nos separe pra se separar antes do final do mês e depois se casar mais seis vezes ao curso da vida).

O que esses pulhas (de direita e de esquerda) não entendem é que as portas do inferno estão abertas. E foram abertas pela revolução industrial.

Conservadores defendem o avanço tecnológico e o livre mercado, mas não entendem que é justamente o progresso que permite a existência de tudo que eles reprovam (aborto, operação de mudança de sexo, etc, só possível graças a ciência moderna. O próprio casamento gay é um fruto da dissolução do casamento tradicional, no momento em que a pílula anticoncepcional separou sexo de maternidade para a mulher e abriu novas possibilidades fora do matrimônio).

Esquerdistas por outro lado defendem casamento gay, mas não percebem que, ao relativizar a noção de casamento, abrem a brecha para outras modalidades de "casamento" que eles reprovam, seja dois amigos heteros se "casarem" ou um sujeito se casar com um robô.

Em resumo, tecnologia muda nosso modo de vida e a forma como nos relacionamos com outras pessoas.

Não vejo relação direta entre liberalismo (sentido gringo da palavra) e criação de novas tecnologias (Eu ia dizer progresso científico mas isso é gay demais mesmo).

Os homens que ficam de tinkering até acabaram inventando coisa nova não são os mesmos que liberam uma grana gorda pra ativistas de causas baitolas. Isso é que nem no Tropa de Elite II, o cara fazendo propaganda de como "esse foi o governo [Do estado do Rio de Janeiro] que mais combateu o tráfico de drogas" sendo que quem combateu o tráfico não foi o governador, foi o Nascimento.

O aborto por exemplo existe desde que o mundo é mundo em diversas sociedades, o "pajé" dava um chazinho pra "indiazinha" e bam, tchau tchau cria indesejável.

E sociedades que não tinham o aborto, praticavam o infanticídio, que é a exata mesma coisa, só menos área de manobra pra fugir da consciência.

Ashura escreveu:

Não vejo relação direta entre liberalismo (sentido gringo da palavra) e criação de novas tecnologias (Eu ia dizer progresso científico mas isso é gay demais mesmo).

Para ficar mais claro, direitistas geralmente não se opõem ao progresso científico (ficou gay, fazer o que?). Pegue, por exemplo, uma Ayn Rand com seus discursos pró-tecnologia. Eu tenho um livro de ensaios dela onde a autora critica aqueles que são contra o avanço da ciência argumentando que "nada pode parar o progresso porque é imoral fazer isso", blablabla. Inclusive um de seus romances mais famosos, Anthem, é sobre uma sociedade distópica onde a ciência é proibida e o protagonista, que faz descobertas científicas por contra própria, termina por virar um pária dessa sociedade.

Ashura escreveu:

O aborto por exemplo existe desde que o mundo é mundo em diversas sociedades, o "pajé" dava um chazinho pra "indiazinha" e bam, tchau tchau cria indesejável.

E sociedades que não tinham o aborto, praticavam o infanticídio, que é a exata mesma coisa, só menos área de manobra pra fugir da consciência.

Assim como guerras. A diferença é que os métodos de aborto modernos são muito mais eficientes que qualquer chazinho de pajé, assim como um míssil de um drone mata muito mais gente que a lança de um índio.

Última edição por Dr. D em 22/09/14, 11:44 pm, editado 1 vez(es)

"Para ficar mais claro, direitistas geralmente não se opõem ao progresso científico"

A questão é, não vejo porquê eles estariam entrando em contradição ao não fazê-lo.

A tecnologia é uma ferramenta, a ferramenta não tem vontade, quanto mais opinião política.

Ashura escreveu:

"Para ficar mais claro, direitistas geralmente não se opõem ao progresso científico"

A questão é, não vejo porquê eles estariam entrando em contradição ao não fazê-lo.

A tecnologia é uma ferramenta, a ferramenta não tem vontade, quanto mais opinião política.

Não seria bem entrar em contradição. O ponto é que eles não percebem que a tecnologia transforma o mundinho propaganda de margarina que eles tanto adoram. Como querer que a mulher seja uma dona de casa perfeita e casta quando se tem pílulas anticoncepcionais e toda uma gama de novas profissões que a permitem levar um outro tipo de vida?

Esquerdistas idem. Adoram casamento gay, mas puxam os cabelos de raiva com a ideia de que um homem possa preferir uma ginoide a uma mulher humana.

Última edição por Dr. D em 22/09/14, 11:54 pm, editado 1 vez(es)

Bem, de fato, o mundo é o que é, não o que você quer que ele seja.

O argumento do Dr. D tem como pressuposto de validade algo (que me parece) bem simples.

O avanço tecnológico garante a possibilidade de um maior exercício liberdade para quem pode usufruir desse avanço. E isso não é bom ou ruim; é algo neutro. Boa ou ruim será a destinação dada a esse tempo livre obtido.

Infelizmente, a história já cansou de demonstrar que a maioria esmagadora das pessoas não sabe exercer com responsabilidade essa dádiva que é a liberdade. Ao longo do tempo ou você tem uma minoria em um grupo populacional exercendo de forma responsável essa prerrogativa (a aristocracia, a elite política, a elite econômica e/ou a elite religiosa de alguns povos -- normalmente povos antigos e antes de um processo de degeneração social) ou a maioria de umas poucas gerações (considerando o quadro geral de existência da Civilização) de determinada região que conseguem fazê-lo (caso das primeiras gerações dos norte-americanos).

Depois de um tempo, os descendentes desses homens e mulheres (que talvez foram intuitivamente guiados pelo senso de noblesse oblige) acabam perdendo os valores de seus antepassados austeros e se amesquinham, muitas vezes atacando a viga mestra do edifício civilizacional onde vivem. E quando a nata social perde esse senso, a forma destrutiva do exercício da liberdade por parte do grosso da população é uma certeza.

Essa tensão dialética entre avanço tecnológico, aumento de tempo livre e degradação de valores passa despercebida pela maioria esmagadora das pessoas. Por passar despercebida, é impossível combatê-la (não é possível combater algo cuja existência é desconhecida).

Que sejam felizes para sempre.

A notícia aqui veiculada deixa claro que o vulgo, para suportar o peso do tempo, está regressando para o estado de macaco, mas agora com acessos de insanidade e no melhor estilo: "volta que deu merda."

Faltou a fonte.
Cadê a fonte??

Redondo_Rei escreveu:

Faltou a fonte.
Cadê a fonte??

http://www.nzherald.co.nz/nz/news/article.cfm?c_id=1&objectid=11322617

Delta-Dan escreveu:

O argumento do Dr. D tem como pressuposto de validade algo (que me parece) bem simples.

O avanço tecnológico garante a possibilidade de um maior exercício liberdade para quem pode usufruir desse avanço. E isso não é bom ou ruim; é algo neutro. Boa ou ruim será a destinação dada a esse tempo livre obtido.

Infelizmente, a história já cansou de demonstrar que a maioria esmagadora das pessoas não sabe exercer com responsabilidade essa dádiva que é a liberdade. Ao longo do tempo ou você tem uma minoria em um grupo populacional exercendo de forma responsável essa prerrogativa (a aristocracia, a elite política, a elite econômica e/ou a elite religiosa de alguns povos -- normalmente povos antigos e antes de um processo de degeneração social) ou a maioria de umas poucas gerações (considerando o quadro geral de existência da Civilização) de determinada região que conseguem fazê-lo (caso das primeiras gerações dos norte-americanos).

Depois de um tempo, os descendentes desses homens e mulheres (que talvez foram intuitivamente guiados pelo senso de noblesse oblige) acabam perdendo os valores de seus antepassados austeros e se amesquinham, muitas vezes atacando a viga mestra do edifício civilizacional onde vivem. E quando a nata social perde esse senso, a forma destrutiva do exercício da liberdade por parte do grosso da população é uma certeza.

Essa tensão dialética entre avanço tecnológico, aumento de tempo livre e degradação de valores passa despercebida pela maioria esmagadora das pessoas. Por passar despercebida, é impossível combatê-la (não é possível combater algo cuja existência é desconhecida).

Em resumo, seria um efeito do tipo "avô rico, filho nobre, neto pobre" aplicado a tecnologia.

Por ex: cientistas do passado inventaram a pílula anticoncepcional para a mulher poder usufruir o sexo sem preocupação de engravidar.

A primeira geração que usufruiu da pílula soube usá-la de forma moderada.

Porém, gerações seguintes confundiram "sexo sem preocupações de engravidar" com "vou dar para todo mundo", lembrando que homens também entraram nessa no sentido de "agora que tem anticoncepcional vou comer todas!".

Isso com o tempo resultou numa cultura de hedonismo sexual, onde ser o comedor ou a gostosona passou a ser mais importante que família e filhos.

E pior, tal comportamento é elogiado pela esquerda como "revolucionário".

Mas o problema dos esquerdistas é que eles enxergam suas próprias posições ideológicas como um fim da história. Por ex: no momento que casamento gay for aceito, nada mais irá mudar.

Ledo engano, efeito semelhante ao da pílula anticoncepcional ocorrerá. Novas tecnologias oferecem novas possibilidades e pessoas, sem a capacidade de discernimento, mudam seu comportamento e coisas consideradas tabus ou imorais pelo esquerdista passam a ser socialmente aceitas.

Nessa perspectiva, o esquerdista é ironicamente o conservador de amanhã.

"liberais" de 50 anos atrás seriam considerados conservadores hardcore pros padrões de hoje.