Spoilers abaixo.
O paradoxo do Fuzileiro.
''Uma história.
Um homem com muitas escolhas...
E as escolhas feitas na vida raramente são perfeitas.
Então ele assina um contrato porque quer fazer a diferença.
Quer salvar o mundo, torna-lo um lugar melhor.
Mas, quando assinar o contrato não pode escolher
quando comer, dormir ou lutar.
Alguém decidirá por você.
Fará parte de algo maior que si mesmo.
Será treinado por 70 dias
para conhecer cada centímetro de seu rifle M16A4
melhor que o seu próprio pênis
Em seguida, irá para o deserto lutar.
Para morrer. Para que ele luta? Para que ele morre?
Qual o maldito ponto?''
É assim que começa o filme Jarhead 2- Field of Fire.
O Filme apresenta os soldados durante a guerra do Afeganistão, um grupo de fuzileiros tem como objetivo conseguir levar uma Afegã ao seu destino, a Afegã em questão foi educada na America, falava um inglês perfeito e era um símbolo de resistência contra as leis Sharia. Ela havia sido educada e tido ensino, coisa que talibans radicais não aceitavam (mulheres ter ensino), portanto ela teve como penalidade a morte de sua irmã caçula, ela apenas não havia sido morta para não se transformar num mártir, a importância de resgata-la é porque ela iria palestrar na ONU sobre o tema. Outro fato interessante é que um dos fuzileiros do grupo era afegão, e passava por grande desconfiança de seus colegas, mas aqui eles deixam pra falar que existem bons afegãos, mas ainda assim é algo extremamente raro.
Então o que é apresentado de fato no filme? O Drama pessoal, as causas pequenas, a parte mais emocional . Nada sobre como começou a guerra, nada sobre as ''causas profundas'' conceitualizadas pelo historiador Duroselle.
As causas profundas são notórias: as interferências militares dos EUA no Oriente Médio.
Se você analisar quantas guerras os EUA participaram nos últimos 20 anos chegará em um resultado interessante..Todas, sim todas as guerras tinha uma mãozinha, ou melhor uma bomba dos EUA caindo na cabeça de alguém. Isso se deve em parte ao fato deles acreditarem que podiam levar justiça pra outros países com Bombas e fuzis, quando a experiência nos mostra justamente o contrário, interferências militares de estrangeiros levam à radicalização dos movimentos (A Al Qaeda tinha no começo cerca de 45 membros, hoje tem milhares e abriu recentemente uma célula na India), além das intervenções desestruturarem o pais, elas geraram guerras civis e caos sistemático na região, hoje o Oriente Médio é semelhante à um barril de pólvora, qualquer faísca pode virar uma guerra.
A posição contra intervenções é tradicional no pensamento conservador, com o maior expoente defensor dessas ideias nos EUA sendo Ron Paul. Há muito já se foi notado que essa posição de 'polícia do mundo' é algo falho, e serve para gastar o dinheiro do contribuinte, e facilitar a ocorrência de crises como a de 2008, e a criação de um tal de ISIS. Eis os agravantes de brincar com fogo. Se Keynesianos tem a pretensão de controlar toda a economia, os EUA tiveram a pretensão de controlar a guerra e a paz, os valores, a cultura, e isso é complicadíssimo e nem todo povo irá ficar de joelhos facilmente.
Ai que vem a questão do Filme, qual a posição dos Soldados? Eles tem boas intenções? Tem. Eles são pessoas de bom coração? São. Muitas vezes ele são tudo isso, e se deixam levar emocionalmente pelo discurso midiático padrão (tanto que um deles considerava qualquer Afegão como terrorista, até que um Afegão salva a sua vida).
Os guerreiros do filme não são pessoas más, os cidadãos americanos em geral não são más pessoas como acredita boa parte da esquerda, mas eles têm se guiado por ideias emocionais, pois racionalmente a grande maioria das guerras dos EUA é non-sense como afirma o cientista político Oliveiros Ferreira.
Os soldados percebem isso com o tempo, percebem que lutaram uma guerra sem sentido. Percebem que eram governados por homens de negócios, por tolos ou interesseiros que jamais pegariam em um fuzil, isso faz boa parte dos soldados americanos entrarem em depressão ou terem outros distúrbios pós guerra, viram que participaram de uma digladiação sem bons motivos. Isso ocorre devido à estrutura que tem nossa sociedade, o problema foi desvendado eras atrás por esta sentença:
"The country which separates it's scholars from it's warriors will have it's thinking done by cowards and it's fighting done by fools".
- Tucídides."
Este é o paradoxo do fuzileiro: Um bom homem, com boas intenções, mas que está lutando por causas sem sentido e problemáticas.
Neste sentido eu ainda prefiro muito mais o filme Jarhead 1, no qual o fuzileiro cai na real quando percebe que ao invés de combater está em um campo de petróleo.
No segundo filme a parcialidade pros EUA foi muito, mas MUITO maior, embora seja um bom filme com história, roteiro, drama e etc.. Ele é parcial e emocional, pode até induzir jovens tolos a achar que estão lutando pela liberdade entrando no exército norte americano. O filme retrata todos afegãos com cara de malucos malvados que lembram o zeca urubu, e os americanos como os caras que tem uma família, uma história de vida (algo renegado no filme para os afegãos), ainda assim algumas partes são interessantes, como a fala de um soldado afegão em que ele diz que o Afeganistão já passou por muitas guerras, e balas não são capazes de ajudar seu pais.
O Paradoxo do soldado é apresentado na abertura, com o texto que copiei aqui e pra mim é a melhor parte do filme, é algo que todo militar que luta as guerras atuais dos EUA devia se perguntar:
''Para que ele luta? Para que ele morre?
Qual o maldito ponto?''