Rada escreveu: No fim da história, quem destruiu o PT foi Eduardo Cunha e da única forma que seria possível, de dentro para fora. Não foi algum erudito da alta cultura, com a cabeça cheia de palavras e notas de rodapé.
Não sei se tem a ver algo com o que eu tenho dito, mas se tem, fica um esclarecimento: não estou delirando com uma "república platônica" a ser liderada por sábios e eruditos.
Estou dizendo algo muito mais realista que isso: fora dos apertados curraizinhos ideológicos da internet, onde simbolismos irrelevantes ganham proporções maiores do que as devidas, do que as que desdobram consequências práticas...
... existem pessoas sérias, qualificadas e com padrões.
Dentre as qualidades que um presidente deve ter, uma delas é bem mais do que cosmética - é condição para governabilidade. Essa qualidade é a
compostura.
Qualidade essa que a meu ver, Bolsonaro não possui. Lula também não possui. Dilma, apesar de seus defeitos, possui alguma (embora nos últimos meses... tem perdido com muito mais facilidade, sob pressão).
Bolsonaro seria um candidato povão, e amado apenas por barraqueiros - do povão ou não. Por tipos irascíveis, sem tino prático, e cujas afinidades se dão através de destrambelhamentos. Mas não gozaria de credibilidade em meio a gente que faz as coisas andarem de fato, gente que possui um critério para atenção muito rigoroso: ficam surdos numa fração de segundo no primeiro destempero ou fala megalômana que ouvem.
Gostando ou não, essa qualidade, Aécio possui. Temer possui. Cunha possui. FHC possuía. Trump, que é muito criticado por sua excentricidade, também possui a julgar pela forma como consegue manter-se na ofensiva em afetar-se pelos contra-ataques que recebe.
O mais alto na hierarquia onde descalabros são tolerados, é a Câmara. Num Senador já fica péssimo. Num presidente, só mesmo se ele for um autoritário ou um cleptocrata disposto a comprar a todos, do contrário, sua credibilidade (não estou falando de imagem de honestidade, e sim de confiabilidade que transmite com sua fala) é duramente comprometida, e seu governo também.
Honestidade é importante. Boa sorte procurando em meio a um sistema absolutamente corrupto, onde não se governa com virtudes em demasia. Ademais, em um político, honestidade fala sobre o que ele não faz (roubar), mas nada fala sobre sua competência.
Se Bolsonaro se aproveita de todo foro que lhe é dado para manifestar-se, temos isso e muito pouco a mais para julgar - e em meu juízo, pela forma como é facilmente CONDUZIDO a posições que permitem seus adversários lhe descreditar com facilidade, ele denota pouca competência. Também denota pouca compostura - como disse, se por um lado a Câmara consegue acolher suas histerias, por outro, um encontro de chefes de estado, empresários, juristas e o mais, já não acolhe.
O espantalho que fazem dele, é, a meu ver, com direta contribuição dele - que torna isso uma tarefa fácil, que aceita comprometer sua credibilidade por visibilidade (uma permuta perigosa!). É extremamente mais difícil criar um espantalho como esse, de alguém que sabe conduzir-se.
Bolsonaro apela ao zé povinho, com suas picuinhas. Apela para os tipos coléricos, dados a surtos histéricos, que se identificam demais com o estadalhaço para notar que suas macacagens produzem zero consequência prática, não cumprem nada. Apela para os que são cínicos o bastante a respeito da poítica, mas também imaturos demais para se posicionar quanto a ela com zombaria tão somente.
E por fim, apela também aos que, na gigantesca falta de opções da política, fazem um esforço descomunal para perdoar os deslizes e siricoticos desse Sr. Compostura não é, de modo algum, a maior qualidade necessária a um Presidente. Mas a falta dela, para mim, é critério de eliminação. Desprovido da mesma, um carisma é jogado fora e um caráter posto em questão (e não falo de "bom" ou "mau" caráter, mas caráter no sentido de apreciação a se fazer sobre uma pessoa). Descompostura, destempero, são características que muito raramente são salvas por outras qualidades redentoras - às vezes nem mesmo com todas as outras virtudes possíveis, se salva o sujeito: não é possível mais nada porque sem essa característica ele simplesmente não é talhado para certas posições.
Entendo que ele possua diversas qualidades. Que esteja disposto a fazer um bom trabalho. Que seja apoiado portanto nisso, na posição onde ele pode fazer isso (no Legislativo), que também é uma posição que ele pode ocupar.