Mais da metade dos brasileiros com 30 anos está insatisfeita com a carreira


Mais da metade (52%) dos brasileiros com 30 anos afirmam trabalhar para sobreviver, ou seja, não têm uma atividade profissional da qual se orgulham. A baixa criticidade de pensamento no período escolar, somada a escolhas vocacionadas pouco assertivas no Ensino Superior, resulta em uma grande parcela de trintões insatisfeitos com a vida profissional. Os entrevistados afirmam ter um emprego – não uma atividade profissional com significado. Para 26% dos entrevistados das classes A e B, prevalece a vontade de ter uma profissão que traga mais realização; o mesmo sentimento é partilhado por 28% da classe C.

Essas são algumas conclusões da terceira parte do ‘Projeto 30, Carreira & Vida Financeira’, desenvolvido pela Pesquiseria e coordenado pela Giacometti Comunicação. A percepção de que ganham pouco perante o muito que trabalham está no discurso de 16% dos entrevistados da classe A e B, e 18% dos trabalhadores da classe C. Apenas 16% dos trintões das classes A e B, e 15% da classe C se consideram realizados com o trabalho.

Segundo o presidente da Giacometti Comunicação e coordenador do Projeto 30, Dennis Giacometti, é interessante notar que 9% dos entrevistados da alta renda e 10% da classe C aceitariam ganhar menos para ter mais qualidade de vida. “Há, também, um contingente de 7% de cada estrato da pesquisa que reportam não esquentar com o trabalho. Esses brasileiros simplesmente deixam as coisas acontecerem”, afirma Giacometti, acrescentando que o apego à rotina e gosto por um salário fixo é compartilhado por 7% de cada estrato social.

Frustração
A pesquisa aponta acentuada descrença com o mercado de trabalho. A frustração ocorre frente às poucas oportunidades oferecidas. Para os entrevistados, em um mercado mais competitivo e que remunera mal, a ideia de ascensão social se torna cada vez mais utópica. A falta de autoconhecimento real, que identifica virtudes e limitações, originou as escolhas que não refletem os desejos profundos dos entrevistados. Ou seja, há baixo autoconhecimento e pouco planejamento.

“Há os que relatam se identificar com o ofício escolhido na vida universitária, mas que estão trabalhando em outras áreas. Uma outra parcela, a maioria de classe C, afirma ter sido obrigada a parar os estudos para ajudar a família. Para eles, voltar a estudar está nos planos, assim como a construção de uma carreira ascendente”, afirma o sócio-diretor da Pesquiseria e coordenador do Projeto 30, Tiago Faria.

Geração superestimada
Os trintões estão correndo atrás do que acreditam que deveria estar consolidado. O cenário é de pessimismo e há razões para isso. Trata-se de uma geração superestimada – muitas expectativas, poucas realizações. Com mais respaldo dos pais, mais ferramentas à mão e sendo filhos de um cenário macroeconômico estável e ascendente, a expectativa era que as conquistas viessem de forma natural. Ao contrário, essa geração continua batalhando.

Mesmo com desejo de virada e recomeço, o medo de arriscar é cada vez maior frente a um cenário econômico de muita instabilidade. Prudência e pé no freio são apontados como necessários para preservar o que já construíram. Na pesquisa, a crise é relatada como fator de pouca diferenciação salarial e muita competitividade. Uma das principais queixas a respeito do mercado de trabalho é sobre os salários baixos e as dificuldades de encontrar emprego. Muitos acabam aceitando o que aparece e se distanciam mais da profissão que escolheram.

Um dos reflexos das escolhas desacertadas, a realidade financeira está aquém das expectativas dos trintões. O dinheiro é a principal questão na vida por materializar o desejo da estabilidade – e do sonho da liberdade. A estabilidade financeira é, aliás, a grande busca da maioria dos entrevistados e a vida profissional um atalho para conseguir dinheiro.

Para 86%, a busca por estabilidade financeira é a principal questão da vida. Salvo raras exceções, a maioria afirma que o maior problema é a falta de dinheiro: 70% dos entrevistados têm baixa realização financeira; 23% média; e 7% alta. Entre as principais frustrações financeiras está não conseguir pagar as contas em dia e deixar cair o padrão de vida da família. A maioria dos entrevistados não se julgou capaz de juntar dinheiro ou manter uma poupança.“Em função disso, emerge a cultura do agora, das pequenas indulgências. Já que não conseguiram juntar, preferem gastar um pouco mais para viverem momentos felizes. Permitem-se pequenos luxos e as compras proporcionam pequenas alegrias”, afirma Tiago Faria.

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