Para quem não lembra, o WW tem um teoria de que, quanto mais politizado o sujeito, maior a sua frustração sexual, e que ser de esquerda ou direita seria apenas uma questão da natureza sexual de sua frustração (ex: GDRs são de direita pq não comem mulher. LGBTs são de esquerda pq não conseguem pegar os heteros).
Estou lendo o clássico 1984 de George Orwell, e não é que me deparo com uma passagem igual a teoria do WW?
O contexto da passagem abaixo é o seguinte: o casal protagonista (Winston e Júlia) está num quarto que usam de esconderijo para encontros sexuais secretos. O partido é extremamente puritano e inclusive tem uma divisão chamada de "liga anti-sexo". No trecho Julia conta sua vida sexual a Winston.
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Ela pôs-se a discorrer sobre o assunto. Com Júlia, tudo girava em torno da sua própria sexualidade. Assim que este assunto vinha à balha, de algum modo, mostrava-se muito informada. Ao contrário de Winston, percebera o sentido íntimo do puritanismo sexual do Partido. Não era apenas pelo fato do instinto sexual criar um mundo próprio, fora do controle do Partido e que portanto devia ser destruído, se possível. O mais importante era a privação sexual que provocava a histeria, desejável porque podia ser transformada em febre guerreira e adoração dos chefes. Ou como explicava Júlia:
- Quando amas, gastas energia; depois, ficas contente, satisfeito, e não te importas com coisa alguma. Eles não gostam que te sintas assim. Querem que estoures de energia o tempo todo. Todo esse negócio de marchar para cima e para baixo, dar vivas, agitar bandeirolas, é sexo que azedou. Se estás contente contigo mesmo, por que havias de admirar o Grande Irmão, os Planos Trienais e os Dois Minutos de ódio e todo o resto da maldita burrice?
Era bem verdade, pensou ele. Havia uma ligação direta e íntima entre a castidade e a ortodoxia política. Como poderiam ser mantidos no tom o medo, o ódio e a credulidade lunática que o Partido necessitava nos seus membros, a não ser pelo engarrafamento de um poderoso instinto, usado como força motriz? O impulso sexual era perigoso ao Partido e o Partido o transformara em vantagem a seu favor. A truque semelhante tinham submetido o instinto da paternidade. Como não era possível abolir a família (ao contrário, os pais eram incitados a gostar dos filhos quase à moda antiga) as crianças eram sistematicamente atiradas contra os pais, e ensinadas a espioná-los e a denunciar os seus desvios. Dessa forma a família se tornará uma extensão da Polícia do Pensamento. Era um meio pelo qual todo mundo podia ser cercado, noite ou dia, por delatores que o conheciam intimamente.
Estou lendo o clássico 1984 de George Orwell, e não é que me deparo com uma passagem igual a teoria do WW?
O contexto da passagem abaixo é o seguinte: o casal protagonista (Winston e Júlia) está num quarto que usam de esconderijo para encontros sexuais secretos. O partido é extremamente puritano e inclusive tem uma divisão chamada de "liga anti-sexo". No trecho Julia conta sua vida sexual a Winston.
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Ela pôs-se a discorrer sobre o assunto. Com Júlia, tudo girava em torno da sua própria sexualidade. Assim que este assunto vinha à balha, de algum modo, mostrava-se muito informada. Ao contrário de Winston, percebera o sentido íntimo do puritanismo sexual do Partido. Não era apenas pelo fato do instinto sexual criar um mundo próprio, fora do controle do Partido e que portanto devia ser destruído, se possível. O mais importante era a privação sexual que provocava a histeria, desejável porque podia ser transformada em febre guerreira e adoração dos chefes. Ou como explicava Júlia:
- Quando amas, gastas energia; depois, ficas contente, satisfeito, e não te importas com coisa alguma. Eles não gostam que te sintas assim. Querem que estoures de energia o tempo todo. Todo esse negócio de marchar para cima e para baixo, dar vivas, agitar bandeirolas, é sexo que azedou. Se estás contente contigo mesmo, por que havias de admirar o Grande Irmão, os Planos Trienais e os Dois Minutos de ódio e todo o resto da maldita burrice?
Era bem verdade, pensou ele. Havia uma ligação direta e íntima entre a castidade e a ortodoxia política. Como poderiam ser mantidos no tom o medo, o ódio e a credulidade lunática que o Partido necessitava nos seus membros, a não ser pelo engarrafamento de um poderoso instinto, usado como força motriz? O impulso sexual era perigoso ao Partido e o Partido o transformara em vantagem a seu favor. A truque semelhante tinham submetido o instinto da paternidade. Como não era possível abolir a família (ao contrário, os pais eram incitados a gostar dos filhos quase à moda antiga) as crianças eram sistematicamente atiradas contra os pais, e ensinadas a espioná-los e a denunciar os seus desvios. Dessa forma a família se tornará uma extensão da Polícia do Pensamento. Era um meio pelo qual todo mundo podia ser cercado, noite ou dia, por delatores que o conheciam intimamente.